Existiu um pássaro
De asa quebrada e bico descorado
Feio em sua forma de ser e de voar.
Angustiava-se fácil,
Como se o universo despejasse sobre suas costas a culpa do mundo,
Caia, frágil ao peso das coisas, com facilidade.
Ficava em silêncio torcendo por ajuda
Até perceber que só lhe sobraria o levantar sozinho.
Teimoso, insistia
Como se pudesse enfrentar as dores mais profundas sem sangrar.
Ciscava no chão migalhas de sentimentos
Encontrava palavras que nunca viravam nada além de palavras,
E transformava o pouco que ciscava no combustível de uma vida,
Tolo, caia de novo...
Machucando o chão
Impedindo as flores
Cada vez mais fundo
Como chumbo
Como pedra sem valor nenhum para os homens
A não ser o desvalor de ser pedra.
Arranhado, levantava-se...
Perdido, levantava-se...
Sozinho, levantava-se...
Levantar-se, ainda, acreditando nos seres e nas coisas,
Levantar-se quando seria mais fácil ficar ali,
Ainda feio, com seu bico descorado, com a asa quebrada,
Com a culpa do mundo...
Levantar-se para cair de novo.
Existiu um pássaro que, apesar de tudo, acreditou.
Wanderson Lana
30/08/2022