terça-feira, 27 de julho de 2010

Ao gato que arranhou o sofá

















Sim, é pra você este poema.
Preguiçoso e desdenhoso, talvez nem leia
E continue a se espreguiçar,
Arranhar o sofá da sala,
Banhar-se de si mesmo
E adormecer tranquilo.

Não, não há pesar em você;
Nem pelo sofá, nem... Deixa... Nem pelo sofá.
Carrega na mente só o despertar e mais nada.

Ontem afastei o prato, o leite pareceu do cachorro.
Tímido esforço de revolta contra você que... Nem ligou;
Não ligou, roçou minhas pernas;
Não ligou, bebeu o leite;
Não ligou, adormeceu no sofá.

Quero dizer que não gosto do seu jeito desdenhoso,
E, também, para que não estrague o sofá
E... Deixa! Deixo...
Só não estrague o sofá.


Wanderson Lana.
20/07/2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cachorros e asas


Houve um tempo onde cachorros vertiam asas,

E sem nenhuma dificuldade, conseguiam nos erguer no vôo.

Preocupados com o gozo, aquém da prudência... Atreviam-se ao mais alto possível.

E lá, onde os pés sempre quiseram tocar sem asas, não se atreviam a nada,

Fiéis, comemoravam um desejo inerente a si...



Este tempo, tempo dos cachorros de asas,

Chovia sempre no fim da tarde, quando o sol, gigante, quase embalado nas montanhas, ameaça desfalecer.

Assim fraco, permitia o perpetuar das poças,

E minha infância corria, mergulhava em sua profundidade rasa e irrelevante.

- Livre...

Escutava latidos formarem sons e fugir.

Enleado, a infância então desprendia e também era som.



Tempo em que podia voar e voltei,

Tempo em que podia falar sem vergonha,

Tempo em que se tinha tempo e o tempo era seu.

Tempo onde cachorros vertiam asas e não negavam o céu...

Tempo a favor, que hoje vento, sopra contra e enruga a face.

Tempo...



Minha infância corre entre poças...

Sorri, solto, e late para um cachorro que... Pode voar o cachorro.

Distantes, mas ali, causando a ilusão de ainda existir.

Num tempo em que podia voar e voltei.



Wanderson Lana