quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ingratidão

Havia morcegos em meu quarto
E no meu quarto permaneceram por toda uma noite
Ou uma vida, não sei ao certo.

Só agora consigo ver hematomas colorindo minha pele.
Uma gota de sangue seca do lado direito
E do lado esquerdo... Tudo seco também.

Olho para as paredes em busca de sombras
Não há sinais de sua presença pela escuridão de minha vida
Ou do quarto, não sei.
Ele vôou antes que eu acordasse
E só deixou uma alma seca em meu peito.

Intriga-me o porquê de não ter dito nada
Se por tanto tempo sugou meu impuro sangue
"ou minha vida Eu Não Sei!"
Partir assim sem ao menos dar a certeza que existiu é deixar o peito, do qual se alimentou, seco e infértil por um longo tempo.

Havia morcegos em meu quarto
Ou em minha vida, não sei...
Só sei que eles foram embora...
E de si, não me deixaram nada.



Wanderson Lana

quinta-feira, 10 de abril de 2008


Chaga
Tenho uma ferida,
aberta
Que de tanto tempo aberta
Não se ata mais.
Escorre pelos braços
O vermelho do corpo
A pele parda sem brilho é tudo que sobra.
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A alegria é externa
Ás vezes dura quase um dia
Outras é átimo
Até ser quebrada por uma palidez relapsa
Uma dor aguda
Uma lágrima que não é vermelha
Mas surgida da mesma fonte.
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Ninguém vê
Percebem apenas as nuances de humor
Irritações com azar sempre amigo
E as qualidades que sempre foram defeitos.
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A ferida nunca foi maior e nem menor
Nasceu e se manteve assim por todo esse tempo
Nem houve culpados ou inocentes
Nada ou ninguém...
Não importa o tamanho do curativo
Ela nunca se cala.
.
Tenho uma ferida,
aberta
Que de tanto tempo aberta
Não se ata mais.
Wanderson Lana

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Aos Elefantes

Meus melhores amigos eram elefantes

Digo eram, pois já não sei se existem mais

Uma senhora disse que nunca houve elefantes aqui.

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Agora não sei para onde foram meus segredos

Ou se eram reais aqueles abraços

Os elefantes me diziam coisas ternas, especiais

E hoje vem a certeza de nunca ter ouvido nada.

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Eles sempre foram tão reais

Tiravam-me do mundo e me levavam para um lugar incrível

Eu perdia meu sarcasmo e meus preceitos

Enchia-me de orgulho por ter ao lado pequenos elefantes.

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"Sempre estive sozinho então?"

A senhora não respondeu. Não queria causar mais dor

"Elefantes não existem, menino"

...Sempre estive sozinho então.

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É injusto não ter ninguém para culpar...

Mesmo sendo minha essa ilusão, o dia sempre dormia antes

As coisas pareciam mais fáceis

Minha vida não era feita de tantos pretéritos imperfeitos.

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Meus melhores amigos eram elefantes

Digo eram, pois já não sei se exitem mais

Uma senhora disse que nunca houve elefante aqui

Nem abraços

Insentivo

Convites

palavras de afago

ou olhares aconchegantes

Nunca...

.

Nunca houve ninguém além de mim tentando reconfortar a mim mesmo.

Wanderson Lana

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sexta-feira, 4 de abril de 2008

Pedaço
A Respiração é ofegante
as manhãs pesadas.
Acordo e só quero dormir novamente
protegido pela escuridão que o edredom faz sobre o meu corpo
Sobre o meu peito.
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Não há a quem recorrer...
O telefone parece mudo quando te chama
Mas é você que se cala.
Não me lembro o dia de sua partida
Só sei que nunca mais voltou.
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As perdas e decpções me aflingem tanto
Mesmo havendo experiência, nunca estou preparado
Perco pedaços de mim que nunca voltam
Só ficam as lembranças do que parecia ser.
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Daqui a pouco estou mais velho
E ainda sozinho...
Ignorado em meio a tanta gente conhecida.
Wanderson Lana