sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Canção para o vento que espera



Deixa o vento entrar,
É leve essa canção.
Diz assim: deixa o vento entrar e só...
Não é a janela, nem a porta... Tem um buraco no teto,
É por ali, não por onde esperam,
É por onde você espera.
Deixa o vento entrar, coraçãozinho.
Xucro, aguarda convite,
Sem palavras só com olhar...
Olha entre meio aos seus cabelos,
- Cabelos bonitinhos de tão bonito -
Aí ele vem,
Vem e enlaça, arrebata, carrega, mantém,
Vem e modifica, faz sorrir, chorar, muda tudo.
Vem e por vir, vem mesmo.
Deixa o vento entrar, é leve essa canção,
Diz: deixa o vento entrar e só...
Vou cantar e assim posso entreter a espera,
Vai lá, escuta e depois deixa entrar:
“Deixa o vento entrar,
O vento,
O vento,
Deixa o vento entrar, coraçãozinho...
Deixa vai”.


Wanderson Lana
    10/12/2010 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Planeta Vermelho


Vou embora, além das fronteiras do céu,
Onde o azul perde o sentido em ser
E todas as outras cores são o céu também.
Vou além e além fica Marte
Não o Deus, o lugar.
O lugar além do céu é vermelho
vermelho-cor-das-coisas-que-sinto.
Não há nada além da cor (das coisas que sinto)
Mas qu'importa,
Mas qu'importa se aqui, sob os azuis, o tudo se perde em relatividades?
Se quiser pode pensar em mim,
imaginar-me agora distante... em outro planeta, além do azul,
Para os sábados demorados deixei uma carta que não conforta,
uma carta ao remetente... não responde nada.
Deixa no ar (eu e as perguntas),
Um ar vermelho que não conseguirá respirar.

Eu sou de Marte 
Sou do vermelho e não do azul,
Sou dos desertos, das impossibilidades, do silêncio, do vazio...
Da solidão também que já sou eu; e do clima que as estações de medição não conseguem prever.
Lá dá pra correr, sem nunca chegar...
Cair desenleado a vergonha e ao riso,
Não contar as horas e o tempo mesmo assim correr e de súbito anunciar épocas e vanguardas...
Vou embora, além das fronteiras,
Se quiser... pode pensar em mim.



Wanderson Lana.