quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Vontade em meio ao jeans de segunda-feira








Não tomou banho, apenas vestiu a calça, Jeans, um pouco batida – apenas um pouco, imperceptível –, calçou os sapatos novos e reorganizou o cabelo. Estava pronto, não pronto para viver aquele dia, mas pronto para sair em direção ao trabalho e apenas trabalhar, sem pensar em nada importante. Calçou os sapatos – novos, bonitos – e de repente quis chorar. Isso mesmo, assim, simples, quis chorar. Pensou em voltar pra cama, dormir um pouco ou apenas tentar encontrar o sentimento canalizador de tão estranha sensação.
Não deitou, não sentou e não chorou...
E mesmo não tendo feito nada ficou intrigado com essa sensação de querer chorar. Os motivos eram muitos, se houvesse concentração naquele momento poderia enumerar as possibilidades de estímulo às suas glândulas lacrimais simples como escrever uma carta de despedida. Involuntário foi seu corpo, como se não o pudesse controlar, se comentasse muitos diriam ser um fato comum, falariam sobre vontades que vem do nada e ele não queria ouvir... Não, enquanto dirigia seu carro e escutava uma música boa, mas de história ruim, decidiu não dividir a sensação de choro no meio de um quarto onde as paredes descoradas não traziam nada: Nem alegria nem tristeza suficiente para explicar uma vontade involuntária assim. Dirigiu intrigado e mesmo assim sem lembrar, sem conceder vida às angústias que da última vez chorou.

A última vez... Cama desconhecida... Ventilador no teto... TV ligada (Não se lembra o canal)... Lembranças... Cartas... Não agüentou. E chorar foi tão fácil, que agora no carro, não entende os motivos de não mais lembrar, de não ter se permitido chorar no meio do quarto. A última vez... Um filme (Não consegue mesmo lembrar o canal)... Chorou pouco... Dormiu... Acordou... E esqueceu.

Pensou em acender um cigarro ou beber uma cerveja enquanto dirigia. Irritou-se por não fumar, e não beber uma cerveja nem quando passageiro, muito menos quando motorista. Não, não iria mudar nada por conta de uma vontade sem explicação – que poderia ser explicada se quisesse explorar sentimentos adormecidos –, não, mudanças não devem ser feitas enquanto dirige um carro, calça um sapato novo ou sente uma vontade de chorar no meio de um quarto deserto de sentimentos presentes, cercado do que passou. Cantou uma música diferente daquela música ruim vinda logo depois da boa – mas de história ruim –, colocada para repetir inúmeras vezes até gastar, mas que naquele dia – sem um motivo claro – não colocou para repetir e nem voltou... Deixou o CD correr e ele correu sem merecer sua atenção, estava absorto em cantar outra música – bonita e falava de dormir sem medo, história bonita –. E assim, deixou ir embora de vez a vontade de chorar.
E o que causou?
Como se possuísse duas faces, como se fosse de gêmeos e não de leão, via-se questionar e não responder, via-se exigir e vacilar, insistir e desistir, implorar e esquecer, desesperar-se e sentar; via-se acalmando suas próprias inquietações. E assim se fez normal, duplamente perdido, mas normal... Quando chegou no serviço perguntou ao patrão qual seria o horário da saída, o patrão estranhou respondendo, e à resposta imposta não manifestou nenhuma grave mudança de semblante muito menos uma mudança de sentimento. Apenas aceitou, como quem aceita ser segunda-feira e vai trabalhar preocupado apenas com a hora de sair.
Wanderson Lana
     28/06/2010 

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Coração vencido


Então, agora, irei ouvir o meu chorar, amor...

Tente imaginar também...

Dois corpos suando no prazer pelo prazer

Enquanto um êxtase suspiro explode em marcas no corpo

O outro teima em lembrar

Esquece e lembra

No ritmo dos corpos

Esquece, Lembra, esquece, lembra...

Não esquece mais.

Explode o prazer e o corpo vencido... O corpo suprido lembra de chorar.

Mas não chora por amor esse coração que de amor sofre

Arranha-se por dentro com a sangria endurecida,

Não sabe se bate ou se pára... sabe que mexe

Não sabe se dói ou se acalma... sabe que mexe...

Tente imaginar também

Outra conversa com vozes que se encaixam num mesmo assunto

Pessoas disputando o prazer de falar e serem ouvidas

Com tantas coisas a dizer

Tantas pessoas pra ouvir

Cala-se.

Cala-se e vai lembrar

Ali parado vai lembrar

Perde as coisas do mundo, a opinião interessante de quem tem muito a dizer.

Enquanto falam de equações a mente intensifica a necessidade de chorar.

Mas não chora esse olhar que verte lágrimas

Afunda-se na órbita, se martiriza

A sobrancelha que é suave salta e disfarça

O seu olhar que é irreal fica e disfarça.

Tente imaginar também...

Comigo... Agora,

Irei ouvir o meu chorar, amor.

Irei...

Tente... Agora...

Wanderson Lana

09/09/2010