
Nunca gostei de histórias curtas. Histórias curtas não carregam consigo envolvimento suficiente para comover. Então me abstenho ao desprazer de descobrir a superficialidade que, debalde, tentam causar. Menosprezo, fujo, me nego a lê-las, me nego veementemente. Nunca gostei de histórias curtas.
Era uma vez uma colméia onde todos batalhavam ao comando de uma rainha que possuía as mais brilhantes listras amarelas e pretas de todas as rainhas daquela pequena região de jardim habitada por sete outras colméias. A Rainha era condescendente e gentil, por isso sua colméia tornou-se a maior em pouco tempo e quando menos perceberam já era a maior produtora de mel de todo aquele espaço verde de árvores de braços retorcidos.
Como toda monarquia parlamentarista os súditos começaram a proclamar por uma democracia Talibã ou por um Anarquismo egoísta e a Colméia começou a se fragilizar em seu auge. Visto que o crescimento e queda são as únicas coisas inevitáveis numa sociedade organizada.
As coisas ficaram piores quando começaram a dizer que a Rainha permitia mais mel a alguns súditos, foi quando alguns súditos resolveram boicotar o trabalho ou fazer o mínimo que podiam. Resignados a qualidade de produtores de mel que tinham alcançado, relaxaram. E ninguém mais queria consertar e sim mostrar como a Colméia estava ferida, rachada. Todas as revoltas das abelhas se tornaram importante demais e as opiniões passaram a ser verdades absolutas.
Opiniões não são verdades... Opiniões estragam a verdade.
Algumas abelhas partiram da Colméia e depois sentiram saudades... Outras sentiram saudades da antiga colméia... Outros nada faziam... Mas em sua maioria esqueceram o sentido de colméia.
Perdidos, começaram encontrar culpados e não mais respeitar a rainha e sim, apenas obedecer. Muitos pensaram ser a pessoa certa para estar no lugar dela, mas não ousavam falar, mostravam isso ao agir.
Cada uma queria a saída de um semelhante da colméia.
Cada uma tinha uma reclamação.
Cada abelha e a sua dor fizeram com que o mel começasse a faltar.
Um dia a Abelha Rainha marcou uma reunião onde traria as soluções definitivas. As cobranças de seu reinado próspero a havia deixado com listras cinza e um amarelo desbotado. Nesse dia, todos compareceram... Vibraram, torciam uma pela derrota do outra – Naquele dia ninguém buscou mel.
A Rainha não compareceu, deixou apenas uma carta de poucas palavras, escrita com o pouco de mel que havia sobrado:
Para que ninguém parta, parto eu... Cuidado com o estoque, já não há mel suficiente pra mim nem pra ninguém. Morreria, se assim continuasse. Aquela que se tornar Rainha se preocupe com o mel, sem ele não há vida na colméia. E, súditos... Esqueçam um pouco suas feridas e consertem a casa que as abriga, senão qualquer pedra poderá vos derrubar.
Comigo foram alguns fiéis e outros já me esperam. O mel é farto, mas é preciso ir até as flores pegá-los, elas têm asas para levá-los até nós.
As reações foram diferentes, cada abelha sentiu de uma forma. Não esperavam o partir da Rainha que também nunca esperou partir.
E a história termina assim... O que as abelhas farão da Colméia para que essa não seja vista no chão, ninguém sabe. Ninguém sabe também se pediram pra Rainha voltar.
Wanderson Lana