segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Colméia




Nunca gostei de histórias curtas. Histórias curtas não carregam consigo envolvimento suficiente para comover. Então me abstenho ao desprazer de descobrir a superficialidade que, debalde, tentam causar. Menosprezo, fujo, me nego a lê-las, me nego veementemente. Nunca gostei de histórias curtas.

Era uma vez uma colméia onde todos batalhavam ao comando de uma rainha que possuía as mais brilhantes listras amarelas e pretas de todas as rainhas daquela pequena região de jardim habitada por sete outras colméias. A Rainha era condescendente e gentil, por isso sua colméia tornou-se a maior em pouco tempo e quando menos perceberam já era a maior produtora de mel de todo aquele espaço verde de árvores de braços retorcidos.

Como toda monarquia parlamentarista os súditos começaram a proclamar por uma democracia Talibã ou por um Anarquismo egoísta e a Colméia começou a se fragilizar em seu auge. Visto que o crescimento e queda são as únicas coisas inevitáveis numa sociedade organizada.

As coisas ficaram piores quando começaram a dizer que a Rainha permitia mais mel a alguns súditos, foi quando alguns súditos resolveram boicotar o trabalho ou fazer o mínimo que podiam. Resignados a qualidade de produtores de mel que tinham alcançado, relaxaram. E ninguém mais queria consertar e sim mostrar como a Colméia estava ferida, rachada. Todas as revoltas das abelhas se tornaram importante demais e as opiniões passaram a ser verdades absolutas.

Opiniões não são verdades... Opiniões estragam a verdade.

Algumas abelhas partiram da Colméia e depois sentiram saudades... Outras sentiram saudades da antiga colméia... Outros nada faziam... Mas em sua maioria esqueceram o sentido de colméia.

Perdidos, começaram encontrar culpados e não mais respeitar a rainha e sim, apenas obedecer. Muitos pensaram ser a pessoa certa para estar no lugar dela, mas não ousavam falar, mostravam isso ao agir.

Cada uma queria a saída de um semelhante da colméia.

Cada uma tinha uma reclamação.

Cada abelha e a sua dor fizeram com que o mel começasse a faltar.

Um dia a Abelha Rainha marcou uma reunião onde traria as soluções definitivas. As cobranças de seu reinado próspero a havia deixado com listras cinza e um amarelo desbotado. Nesse dia, todos compareceram... Vibraram, torciam uma pela derrota do outra – Naquele dia ninguém buscou mel.

A Rainha não compareceu, deixou apenas uma carta de poucas palavras, escrita com o pouco de mel que havia sobrado:

Para que ninguém parta, parto eu... Cuidado com o estoque, já não há mel suficiente pra mim nem pra ninguém. Morreria, se assim continuasse. Aquela que se tornar Rainha se preocupe com o mel, sem ele não há vida na colméia. E, súditos... Esqueçam um pouco suas feridas e consertem a casa que as abriga, senão qualquer pedra poderá vos derrubar.

Comigo foram alguns fiéis e outros já me esperam. O mel é farto, mas é preciso ir até as flores pegá-los, elas têm asas para levá-los até nós.

As reações foram diferentes, cada abelha sentiu de uma forma. Não esperavam o partir da Rainha que também nunca esperou partir.

E a história termina assim... O que as abelhas farão da Colméia para que essa não seja vista no chão, ninguém sabe. Ninguém sabe também se pediram pra Rainha voltar.

Nunca gostei de histórias curtas. Histórias curtas não carregam consigo envolvimento suficiente para comover

Wanderson Lana