Alço o primeiro passo
vangloriando-me da promessa cumprida de não permitir muito tempo sem minhas palavras.
Espero-lhe bem, mesmo com tantos invernos destacando as cores, mas gelando os
olhos. Espero-lhe bem, porque assim também ficarei. É estranho caminhar sem a
certeza do seu sorriso, mesmo que distante. Estive pensando e acredito ser esse
o primeiro sintoma do desamor, o primeiro sinal do desamor... Conseguir
caminhar em paz sem a certeza da paz daqueles que há pouco enchiam de sentido
as coisas é sinal de que morreu o amor.
Ainda estamos salvos. Não saberia
viver em um mundo onde sua existência não é fato.
Ando tendo pesadelos, querido amigo,
sobre os dias sem você. Puno-me tanto sobre essas distâncias que nos impedem o
abraço ao ponto de vislumbra-lo sentando em meio a sala, dizendo coisas sobre
seus dias, initendivel, mas o que importa se ouvi-lo me faz sentir-me em casa.
Sente falta de mim assim também?
Desculpa, ando inseguro com as coisas, com o mundo. Pego-me receoso em morrer.
Ontem, acompanhei uma notícia sobre
um rapaz de... Quase a minha idade, estava bem, trabalhou, gastou o seu dia
como gastam os desavisados e assim continuou. Cinco dias depois já não existia
no mundo, era passado. Não parece certo morrer assim, mas se morre. Dei-me por
mim... A sua inexistência me tiraria o chão...
Por favor, não morra, não antes de
ouvir que o amo, querido amigo, não acredito em filmes, mesmo os apreciando a
medida da alma, não acredito em arrependimentos póstumos, nem acho bonito
palavras gastas ao corpo já moribundo que não consegue entender direito, dizer:
eu também; envolvê-lo nos braços como proteção. Não se deve dizer ao condenado
aquilo que privou de dizer quando vivo. É um ato egoísta... Tão amplamente
praticado como se fosse a salvação de quem parte.
Eu aprendi com a vida, meu amigo...
Dizer que ama ao moribundo ou ao cadáver é a salvação egoísta de quem vive.
Pensa, ouvir coisas ternas só quando não há nada a ser feito. Por que se podendo
amar decide-se pela crueldade?
Escrevo-lhe por querer dizer-lhe
agora, e não amanhã sobre minhas saudades, e de como desejo que esteja bem depois
de nossa última conversa, ainda por carta, o que me faz duvidar dos meus
sentidos por, mesmo assim, percebê-lo tão perto, tão forte enquanto escrevo que
sua imagem começa a caminhar pela sala, sentar... cruzando uma perna embaixo da
outra sobre o sofá.
Mesmo com essa nova doença que me
apavora e aumenta minha saudade de tudo que amo. Enlouqueço-me imaginando que
após cinco dias posso estar sem esses pedaços que constroem a minha felicidade,
a minha força, a minha tranquilidade de caminhar. Não saberia perder quem eu
amo, não saberia perdê-lo...
Falei apenas dos meus medos, perdoa-me!
Preciso conversar com alguém e você sempre foi bom em esconder seus sentimentos
em uma caixa para cuidar dos meus... Dos outros. Confidencia-me: Virou a rua?
Você é incrível, direi sempre, e em toda esquina há um abraço de saudade
esperando o seu.
Wanderson Lana
28/03/2020
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