terça-feira, 21 de abril de 2020

O Mapa do meu coração


Escrevo coisas bobas já adulto,
Falo de besteiras do peito...
Você não entenderia.
Lançamos pistas e criptografias
Em um terreno onde só crescem desatenção.
Levante o copo e brindemos – Eis o momento:
Aos amigos, aos amores, aos afetos...
Ofereço-lhes o mapa do meu coração.

A primeira estrada
Exige esforço físico e memória,
Olhar a lua e sentir saudades,
Depois correr ouvindo “I Apolodise” do Moss,
Repeti-la sete vezes como um mantra,
Se sorrir, depois de tudo, procure um banco de praça qualquer,
Eu estarei lá com um abraço.

O segundo caminho
Vai lhe roubar pedaços,
É preciso pesar as estrelas partidas e as que iluminam a gente
Na palma das mãos,
Aguenta... Será julgado pela falecimento dos vagalumes
Que nos protegiam do medo...
Assista “Ano Hana” e depois tenha pressa,
Conte até dez e me encontre debaixo da árvore,
Antes que eu desapareça, Lembra?
Eu estarei lá com um abraço.

No terceiro lugar
Não crescem flores,
Pisaram todas e jogaram sal,
Perco-me em pessimismos ao perceber as pétalas amassadas em suas botas
E as mãos sujas do branco que não permite mais crescer.
Será exigida paciência na germinação das rosas e dos afetos,
Sinto dizer que alguns lugares perderam, eternamente,
a possibilidade de produzir de novo,
Leia a página 93 e 94 do livro azul
E reza um mantra enquanto semeia as coisas que destruiu,
Se conseguir me encontrar antes que o sal destrua meu corpo,
Eu juro...
Eu estarei lá com um abraço.

Onde mora o X indicando tesouro
Cercaram das mais medievais e indescritíveis feras e bestas.
Preocupa-me esses monstros construídos no silêncio e na palavra
Eles me prendem...
É me dado o direito de dizer, mas impedem-me de sair,
Eu não grito,
O que assusta o peito protege o coração,
Não há luta,
Eles não possuem a natureza violenta,
Na verdade, toda a raiva se perde no mais raso dos afetos,
É preciso mergulhar...
Cozinhe seu prato favorito e o meu também,
Festeje a alegria de estarmos vivos, mesmo distantes,
Depois, não importará o lugar: eu prometo! Pode ir...
Eu estarei lá com um abraço.


Wanderson Lana
22/04/2020

terça-feira, 14 de abril de 2020

Os quatro cavaleiros


Uniram-se quatro cavaleiros
Cansados da profundidade, falavam de si
De suas certezas do mundo, de suas certezas do outro,
Bebiam nomes alheios a quem descreviam com inconsequentes adjetivos...
Não seriam punidos,
Eram a imagem da gentileza, da bondade e da generosidade,
Suas cascas eram nobres,
Faltavam-lhes recheio,
Mas sabiam, tinham certeza:
O que fica dentro, longe das vistas, não importa.

Naquela noite o tempo resolveu ser cruel com os rasos,
Como faziam nos primórdios os Deuses,
E lançou sobre todo universo perigoso feitiço,
Cada palavra pesada sobre o outro,
Da sua vida "o outro" sairia.
E o capricho do tempo foi lançado,
Sobre a vaidosa caprichosa daqueles quatro.

Uniram-se quatro cavaleiros,
Que se desgostavam na distância
Porém, com almas iguais, juntos se entendiam.
Não percebiam, mas sob suas sombras não cresciam flores.
Embriagados, seus verbos se fizeram justificativas plausíveis de suas condutas,
Todas as maldades justificavam-se no outro,
E maldosos disseram um nome que irritou o universo.

O “Nome” corria sozinho e vacilou, o ar faltou por um momento,
Pensou coisas, sentiu medo
- Era um aviso dos céus –,
A partir daquele momento nada se encaixava...
Algo havia acontecido.
Ao cruzar com os quatro cavaleiros, de maneira separada - eram de lugares diferentes -,
Sentiu mudarem as coisas,
A gente olha diferente para o vidro trincado, pode machucar...

O Primeiro Cavaleiro soube do feitiço e não se importou...
Justificou-se e se apoiou na memória.
Tolo, ainda não compreendia que o universo não esquece.

O segundo cavaleiro pediu desculpas,
Polido, disse as coisas que acreditou que deveria dizer,
Mas esqueceu de sentir...
Não sabia que pelos olhos escapavam a verdade
A desculpa só aplaca quando resultado do remorso,
Essa desculpas, semelhantes às outras, 
Serviu para que ele sim seguisse em frente,
Era sobre ele... Sempre...

O terceiro cavaleiro desconhece,
Não sabe o que se passa e o que irá se passar,
Ferido, recusa-se em sofrer e, sem entender, fere.
Sempre foi o mais profundo, porém, se acostumou a superfície para pertencer,
Quem já escreveu sobre castelos, Iaras e verdes bolitas da cor dos olhos,
Não merecia perde-se assim...

O quarto cavaleiro também desconhece,
Hiperativo, joga quantos jogos forem necessários,
Cansa-se fácil por tentar mostrar o que gostaria de ser,
Esquece de entender-se,
Busca justificativas para alheias a si para distância,
Vaidoso,
Dribla de si todas as causas.

Uniram-se quatro cavaleiros,
Iguais em alma,
E ali decidiram matar a flor...
Mas o universo é borboleta, querido amigo, é borboleta.
Só entende quem prefere voar.


Wanderson Lana
14/04/2020

domingo, 12 de abril de 2020

Os desvalores
















Pega o livro de poemas esquecido na prateleira
Abra aleatoriamente, é mavioso o destino,
Deixa sentir as palavras...
A raiva não vale à pena.

Respira fundo,
Canta uma música quase esquecida,
Talvez da infância, talvez da última vez que dançou,
Respira de novo...
O Rancor não vale à pena.

Escreva uma carta
Guarda na gaveta... Envia...
A caminhada é maior que o lugar.
Exercita o afeto... Olha a lua.
A solidão não vale à pena.

Olha no espelho, levanta o sorriso,
Enruga a felicidade.
Transborda em caretas e despreocupações,
Ama o reflexo, vai, eu prometo!
O medo não vale à pena.

Deita, levanta, deita de novo,
Pensa nos dias, nas cores, nas horas,
Fala sozinho enquanto rebola os pensamentos
Seja pleno, remansoso, profundo, colosso...
Esperar não vale à pena.

Mas a gente sim...
(Não esquece a lua) 
Mas a gente sim.


Wanderson Lana
12/04/2020