A gente é pendido a
ficar parado, com medo. Esperando alguma coisa que acredita merecer. Somos o
menino que encontrou a planta murcha sem sentir o cheio. Ali parado, sem ainda
entender, cai no cócoras enquanto o peito corre... Fica velando o que não foi
enquanto a vida acontece. Caminhamos com nossa frustação tão dependente do
outro: do abraço do outro, do cheiro do outro, do riso do outro, da alegria do
outro, das lágrimas do outro, do sotaque do outro... Obcecar-se de coisas que
só existem na gente mata nosso tempo e a gente tem pouco tempo.
Querido amigo,
escreverei com mais frequência. Ausente, causei coisas das quais me envergonho.
Perdoa-me primeiro, mas devo dizer as palavras como elas se alinham em minha
mente. Pecarei por excesso, como pecam os prolixos, porém, prometo compensá-los
com uma retórica cheia de afeto. Acredite em mim: Eu te amo!
Não se enamore pelo
desgosto, alerto-te dessa prática dos romances que leu e encerrava de maneira heroica
a curva dramática daquele que não foi correspondido. O desgosto não combina com
pessoas que amam tanto. E não, nem sempre é justo o que nos acomete. Não fica
parado justificado as feridas plantadas em ti pela ausência de palavras e de
afetos enquanto se martiriza pelas feridas protagonizados por seus gestos ao
peito alheio. Queria abraça-lo agora, contrariado pela distancia, beijo as
palavras para que sinta meu hálito enquanto lê, minhas letras sonham em ser
presença em sua vida.
As vezes somos fiéis
com medo de perder coisas que não mais existem. E com medo de perder
inexistências nos perdemos de nós mesmos e deixamos de ser existência. Vão
aparecer outras pessoas e nem tudo precisará mais ser tão profundo como já não o
é agora. Deixa ir, deixa ser, deixa não ser... Você gritou ao mundo que amava e
não foi amado... não sinto vergonha! Não há eco para o amor. O infinito só
repete o vazio.
Ontem encontrei um
desenho... Um presente... Um pedaço do outro vivendo em minha casa. Havia
tantas boas lembranças, tantos bons momentos ali entre cervejas e vinho. Então o
arremessei ao fogo – o desenho – instantaneamente sem nenhum remorso e explico:
esquecemos a solidão causada, o desamor calculado pela menor lembrança boa ou pelo
menor aceno de gentileza. Quando nutrimos afeto por alguém ofertamos todas as
nossas subjetividades em troca de um momento, de uma esperança. Esperança na
vida é substantivo e não verbo de ação. Entende o que digo? Não aceite nada
menor que esse seu coração que alegra meus dias ou oferte a mesma força... pesa
caminhar tanto tempo assim, tísico, em desequilíbrio.
Não digo ser indolor,
mas se já dói por que não doer diferente? Estrada repetida só tem sentido quando
no final também te anseia outro coração, se não, faz a curva, querido amigo, e
bebe alguma coisa na esquina dos seus medos... Ressaca vira lembrança (bebo
agora) mãos trôpegas formando frases que deveriam combinar. Posso perder a
qualidade de encaixá-las em breve, mas prometo não perder a fé que motiva a
escrever-te. Falava de curvas e estradas... temo estar perdido. Engraçado
construir estradas pelas quais caminham desconhecidos. Você olha e pensa,
conheço quem caminha, mas os olhares são tão distantes... Não é possível tocar
mais, falar mais, sentir mais... São estranhos e distantes e continuam ali,
caminhando na sua rua que, de repente, não é sua mais, você é estranho ali... E
por sentir demais, você é intenso demais e, e... sua rua não te cabe (vira a
esquina, já disse). Quando o caminho não é mais seu, nenhum passo será o
suficiente.
É tão bom ser amado –
Você ainda se lembra? – Ser motivo de saudade, complexo de nostalgia. Amigos
também são amores e partem... e maioria dos seus partiram sem avisá-lo da
partida – desculpa ser direto, a bebida me causa rispidez –, deixaram pequenas
presenças que teimam em te esvaziar e você é incrível... Mesmo vazio, você é
incrível. Dizem-te isso? Acordam e dizem como é especial? Como toca o vento, de
doçura, as suas palavras? Como o universo brinca de fazer o centro em ti?
Dizem-te eu te amo e abraçam-te com frequência?
A humanidade criou-te
como capricho... É impossível olhá-lo e não querer ser melhor.
Teimo, então, em
insistir: Vire a rua! Não é justo que te construa em defeitos, que paguem teus afetos
com a distância, que colham seus abraços e plantem flores murchas em seu
jardim... Nele tudo vive, meu amigo, seu peito é fértil de abraços. Sofrerei
contigo se assim fizer necessário, mas vire a rua... Não tenha medo, só não
fique aí.
Despeço-me com a
certeza de brevidade.
Wanderson Lana
25/03/2020
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